Tereza Cristina, 122 anos

Ferrovia que um dia já foi vista como um grande ´fiasco´ nacional, agora trilha o sucesso

Foi com o carvão que surgiu a necessidade de se construir uma ferrovia ao sul do estado brasileiro de Santa Catarina. Atendendo a esta demanda, em 1880 foi iniciada a construção de uma via férrea ligando a região carbonífera ao Porto de Imbituba: a companhia inglesa The Donna Christina Railway Company Limited lançou-se na abertura dos caminhos, assentando dormentes e instalando os trilhos em 118 quilômetros da estrada de ferro. Em 1º de setembro de 1884, com uma grande festa na cidade catarinense de Tubarão, era inaugurada a Estrada de Ferro Dona Thereza Christina. O nome escolhido foi uma homenagem à esposa do Imperador D. Pedro II.
Já com a estrada de ferro pronta para transportar o minério, os problemas começaram a aparecer: o carvão, antes atestado ser de boa qualidade por exploradores enviados à região pelo Império, tinha freqüentemente sua qualidade contestada por novos exploradores.
Inaugurada às pressas para obter algum retorno financeiro (foram 3 anos de construção sem qualquer extração do minério), a empresa administradora da ferrovia na época cometeu o grande pecado de não planejar corretamente a extração e o transporte do minério até o porto de Imbituba, fazendo com que o navio que levaria a carga até a Argentina ficasse mais de 60 dias no porto, inclusive pagando as estadias durante o período. Era a primeira e última carga de carvão a ser transportada nos primeiros 35 anos de história da empresa. Durante todo este período, a empresa sobreviveu precariamente com o transporte de passageiros e mercadorias locais.

Logo após, mais três anos de azar: constantemente a ferrovia era atingida pelas cheias do Rio Tubarão, sendo que em 1887 uma enchente danificou diversos trechos da ferrovia, e em 1890 a produção nacional de carvão entrou em crise.
Em 1902 a situação tornou-se insuportável e a companhia inglesa resolveu abandonar o negócio e a "Dona Thereza Christina" passa a ser administrada pelo governo.
Porém, só à partir de 1940 é que acontecimentos positivos surgiram na história da ferrovia. O transporte do carvão volta a ser realizado, e em 1945 a CSN (Companhia Siderurgica Nacional) passa a utilizar o minério como combustível, retornando assim ao destino sonhado por seus idealizadores.
Em 1957, junto de outras 17 ferrovias brasileiras, a Ferrovia é integrada à Rede Ferroviária Federal - RFFSA. A Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina passa a denominar-se SR-9 (Superintendência Regional da RFFSA de Tubarão/SC).
Em 1996, o governo brasileiro inicia a extinção da Rede Ferroviária, e a SR-9 entra para a lista de trechos a serem privatizados.
Presente
Em 1996, em leilão, a Ferrovia Tereza Cristina S.A. (FTC) obteve a concessão por 30 anos (renováveis por mais 30) da Malha Tereza Cristina, da RFFSA. A empresa iniciou a operação dos serviços públicos de transporte ferroviário de cargas em 01/02/97. Atualmente o principal produto transportado pela FTC ainda é o carvão, seguido de materiais cerâmicos.Conservando o nome original e vivendo ainda 'pelo carvão', estes são os únicos fatores que nos levam a recordar a velha Thereza Christina. Atualmente a empresa é exemplo em operação ferroviária e responsabilidade social. Desde ações sociais envolvendo o trabalhador da empresa e seus familiares, passando por incentivos regionais a eventos carnavalescos e natalinos e chegando até a um programa de ressocialização de detentos.

Futuro
Texto da própria FTC
Entre as prioridades da Ferrovia Tereza Cristina para o futuro, está o transporte de novas cargas, o que está sendo viabilizado com a adequação do porto de Imbituba ao embarque de contêineres e com a conclusão do projeto Cidade dos Transportes, em Criciúma – cuja idéia principal é a construção de um terminal intermodal de cargas com destino à exportação.
A empresa também busca sua integração à malha ferroviária nacional, através do projeto “Ferrovia Litorânea”, cujos estudos estão sendo desenvolvidos em conjunto com a Secretaria de Estado de Infra-estrutura e Ministério dos Transportes, que prevê a ampliação da linha férrea catarinenense, de Imbituba a Araquari, com 236 quilômetros de extensão, interligando os quatro portos catarinenses: Laguna, Imbituba, Itajaí e São Francisco do Sul.
Com a ampliação da malha, a Ferrovia Tereza Cristina poderá transportar uma série de produtos, proporcionando novos corredores de transporte e a logística adequada para o escoamento da produção industrial catarinense.
Dentre as cargas com maior potencial de transporte por via férrea, além do carvão, destacam-se arroz, madeira, produtos e insumos cerâmicos, calcário, insumos agrícolas, produtos metais-mecânicos e cargas de importação e exportação.
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